Reabilitar sim, mas tendo por base materiais que poupam os recursos do planeta e que, em simultâneo, garantam a beleza das linhas arquitetónicas. Foi sob esse mote que emergiu o projeto de remodelação do Bairro de Almaš, onde os espaços verdes pretendem ser chamados pelos nomes. A pensar nas famílias que procuram um lugar para viver e nas gentes que muito deram à terra, o espaço deseja abraçar uma sensação nostálgica, acolhendo a tradição e, em simultâneo, tudo o que de moderno possa ser conjugado. Eis um projeto que resulta do diálogo harmonioso entre zonas secundárias, intermediárias e auxiliares, onde tanto as fachadas, como a identidade do próprio bairro se mantêm preservadas.
Almaš Neighbourhood
Gerações de histórias em paredes remodeladas
Um bairro acolhedor e reconfortante. Ao mesmo tempo, minimalista e depurado. Estes são os planos que o Architectural Studio DBA tem para Almaš, um dos locais mais antigos de Novi Sad, na Sérvia. Mas já lá vamos, porque, primeiro, queremos apresentar-lhe a terra virgem.
Marcada pelas ruas entrelaçadas, casas agrupadas por números e caminhos sinuosos, a zona envolve circunstâncias culturais, políticas e sociais favoráveis para quem pretende fixar-se num recanto pacato e abastado de serviços que dão resposta às necessidades do quotidiano. Consta que o bairro se encontra exatamente como foi apresentado nos mapas datados de 1975, elaborados pelo engenheiro Anton Kaltschmidt, mantendo-se, até hoje, delimitado pela praça Marija Trandafil e por ruas como Temerinska e Dorđa Rajkovića. Talvez o mais curioso seja o aspeto labiríntico que as vielas patenteiam, intimamente ligado com a personalidade dos habitantes de Almaš, ou pelo menos é assim que dita a lenda da terra, esta que faz uma analogia entre o labirinto e os problemas que os residentes tendem sempre a ziguezaguear. O que é certo é que esta irregularidade pode ser justificada pelo fator hidrogeológico e pelas características que o terreno apresenta. E, já que falamos em ruas, saiba que, em tempos, as suas designações eram escolhidas em homenagem às profissões, plantas, animais e tabernas, pelo que o culto de prestar honra a figuras célebres não existia. Atualmente, algumas tabernas ainda compõe o nome de determinadas vias, servindo como pontos de referência para aqueles que dispensam o auxílio das tecnologias. Já no ponto mais alto do bairro, a 80 metros acima do nível do mar, mantém-se Zlatne Grede, a rua que preservou a designação original e que ficou conhecida como a "via de inteligência sérvia”, já que nela residiram bastantes intelectuais do século XIX.
Reestruturação de um bairro cultural
Marcada pelas ruas entrelaçadas, casas agrupadas por números e caminhos sinuosos, a zona envolve circunstâncias culturais, políticas e sociais favoráveis para quem pretende fixar-se num recanto pacato e abastado de serviços que dão resposta às necessidades do quotidiano. Consta que o bairro se encontra exatamente como foi apresentado nos mapas datados de 1975, elaborados pelo engenheiro Anton Kaltschmidt, mantendo-se, até hoje, delimitado pela praça Marija Trandafil e por ruas como Temerinska e Dorđa Rajkovića. Talvez o mais curioso seja o aspeto labiríntico que as vielas patenteiam, intimamente ligado com a personalidade dos habitantes de Almaš, ou pelo menos é assim que dita a lenda da terra, esta que faz uma analogia entre o labirinto e os problemas que os residentes tendem sempre a ziguezaguear. O que é certo é que esta irregularidade pode ser justificada pelo fator hidrogeológico e pelas características que o terreno apresenta. E, já que falamos em ruas, saiba que, em tempos, as suas designações eram escolhidas em homenagem às profissões, plantas, animais e tabernas, pelo que o culto de prestar honra a figuras célebres não existia. Atualmente, algumas tabernas ainda compõe o nome de determinadas vias, servindo como pontos de referência para aqueles que dispensam o auxílio das tecnologias. Já no ponto mais alto do bairro, a 80 metros acima do nível do mar, mantém-se Zlatne Grede, a rua que preservou a designação original e que ficou conhecida como a "via de inteligência sérvia”, já que nela residiram bastantes intelectuais do século XIX.
Reestruturação de um bairro cultural
Mais em baixo, encontramos Lađarska Street, a rua mais estreita de Novi Sad, em que os antepassados, para comprovar o caráter caricato do espaço, deixaram um cálculo de medição para a ruela: 80 degraus de comprimento e apenas três de largura. Neste bairro peculiar, famoso pelo artesanato, tabernas e comércio, predominam as casas compridas, com pequenas caixilharias, mergulhadas numa arquitetura rústica. Não é por acaso que o Bairro de Almaš foi declarado património histórico-cultural, em 2019. Mas, como se costuma dizer, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Ou, neste caso, as necessidades. Com vista a recuperar a simbiose com o espírito natural da terra e a tirar o máximo partido das edificações, o Architectural Studio DBA desenha um projeto de transformação urbana, onde a reconstrução de infraestruturas, pavimentação, paisagismo e criação de uma zona pedonal permitem explorar todo o potencial reunido pelos limites de Almaš. A conservação de fachadas, iluminação pública, regime de tráfego, mobiliário urbano, identidade visual e sinalização turística são outras arestas a polir, que, no seu conjunto, anseiam fortalecer o sentimento de pertença a um "lar”. Espera-se, pois, a reestruturação de um bairro duplamente cultural, com a capacidade de dar resposta às exigências atuais.
Uma ambição de 37,5 milhões de euros
Uma ambição de 37,5 milhões de euros
Ruas obstruídas pelo trânsito, infraestruturas que o tempo deixou em ruínas e carência de zonas verdes são questões que, com o projeto, deixarão de existir. O estúdio projetou a formação de novas linhas de árvores, a construção de pequenas praças e a criação de parques de estacionamento espalhados pela zona, tal como estacionamento exclusivo para residentes. O design da iluminação e o mobiliário urbano também apresentam um papel primordial, capazes de instigar momentos de confraternidade entre a comunidade. O desafio prolonga-se em 51 807,24 m2, desejando assumir uma identidade visual marcante, tanto nos detalhes da pavimentação, como nas placas de trânsito e mapas turísticos. Também não é surpreendente que o estúdio tenha escolhido uma paleta de cores neutra, que recorre aos tons da natureza, ou mesmo que o protagonismo recaia sobre as fachadas e telhados das infraestruturas, já que são eles a prova inexorável da passagem do tempo. Esta ambição, apoiada por associações e residentes, tem um valor de 37,5 milhões de euros, pelo que garantirá a transformação de uma zona desbotada e débil num bairro de pormenores únicos e plenos.
Almaš, um local que procura acompanhar os tempos, sem prescindir do legado que lhe foi confiado.
Almaš, um local que procura acompanhar os tempos, sem prescindir do legado que lhe foi confiado.