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Elora Hardy

"É espantoso ver como o trabalho da Ibuku ajudou a mudar a ideia de design ‘sustentável’”

É uma espécie de mundo Avatar, mas bem real. Na selva de Bali, na Indonésia, há uma mansão de seis andares futurista feita quase exclusivamente num único material sustentável, que é espetacular. E o mais incrível é que este é apenas um exemplo do que Elora Hardy tem feito ao longo dos anos. A designer canadiana, que passou a sua infância neste país, entre espantalhos e cascas de coco, desenhava castelos que hoje ergue como autênticas obras de arte. Antes, ainda trabalhou como designer de impressão para a conceituada marca Donna Karan, em Nova Iorque. Uma vida que ficou para trás, a partir do momento em que lançou o seu escritório de arquitetura em Bali, a que chamou Ibuku, conhecido por criar edifícios únicos em bambu. 
Porque escolheu tirar uma licenciatura em Belas-Artes?
Eu adoro beleza! Sobretudo a beleza da natureza e da cultura que me rodeou ao crescer em Bali. De facto, apercebi-me, mais tarde, que tinha confundido as Belas-Artes com artesanato e design, uma vez que a distinção é diferente tradicionalmente no Oriente e no Ocidente. Mas seja como for, estudar Belas-Artes significava aprender a desenhar, aprender a ver. E estudar História da Arte significava aprender a pensar e aprender a que as coisas fizessem sentido no contexto. Ou seja, era preciso questionar e pensar no contexto. 

Porque abandonou a indústria da moda (especialmente deixar de trabalhar para a Donna Karan) para regressar a Bali e fundar o Ibuku?
À medida que fui avançando nos meus 20 anos, senti uma necessidade crescente de trabalhar para um futuro otimista e belo. Como designer, isso significava fabricar com materiais sustentáveis, algo que eu não conseguia encontrar uma maneira de fazer no mundo da moda, em que estava inserida na altura. De volta a casa, em Bali, vi que o meu pai John e a minha madrasta Cynthia Hardy, que estavam sempre a fazer grandes coisas, tinham estado a construir uma escola – a Green School. Para estar à altura do nome, escolheram o bambu, e o que me chamou a atenção foi a maravilha e o entusiasmo que senti na forma como a sua equipa tinha concebido os espaços. Depois da construção do campus, essa equipa precisava de oportunidades para continuar a conceber e construir. Embora não tivesse formação em arquitetura, construção, ou negócios, senti que tinha de encontrar uma forma de manter esse projeto a andar, bem como essa nova forma de arte. Se não encontrasse uma forma de utilizar as relações, os recursos e a rede de segurança que tinha, e dedicar as minhas competências à sustentabilidade, como poderia imaginar que qualquer outra pessoa o faria? 

De onde vem esta ‘missão’ ecológica que impulsiona a Elora a trabalhar no design sustentável?
As pessoas precisam da natureza, de sentir e de se lembrarem que fazem parte dela. Se conseguirmos criar espaços em que se sintam mais como se estivessem numa floresta ou num casulo, mais do que num edifício, então conseguimos reconectar algo vital. A beleza só importa se trouxer cada momento para um futuro em que queiramos estar. Em primeiro lugar, a inspiração para as estruturas da Ibuku vem da sensação de se ser humano na paisagem, e de escutar os materiais. Os espaços da Ibuku querem ajudar-nos a sentirmo-nos abrigados dentro da natureza, e não separados dela. Porque os seres humanos precisam de abrigo, a própria arquitetura evoluiu como uma forma de nos proteger excessivamente e de nos isolar do mundo natural. Quando a nossa necessidade de abrigo é equilibrada com a experiência de estarmos imersos na natureza amigável, temos a oportunidade de sentir verdadeiramente que pertencemos ao local onde estamos.

O que significa a Ibuku para si e qual é o principal objetivo desta empresa?
Na Ibuku estamos a conceber com materiais naturais e inovadores para criar espaços que nos permitam estar mais próximos de como queremos viver no mundo. Após uma década a desenvolver um vocabulário inteiramente único para um material, o bambu, as pessoas começaram a convidar-nos a trazer a nossa forma de conceber a outros materiais, por isso, agora estamos a criar casas, campus, espaços de hospitalidade e bem-estar a nível internacional. Em cada lugar, trazemos a nossa perspetiva original para tecer uma colaboração com especialistas locais e inovadores internacionais. Estamos sempre atentos à forma como a paisagem quer descansar, ao que os materiais querem expressar e, claro, à forma como as pessoas podem ali pertencer de forma adequada. Acreditamos que podemos criar lugares onde podemos redescobrir a natureza em nós próprios, e sentir uma sensação de pertença e alegria.

"Os espaços da Ibuku querem ajudar-nos a sentirmo-nos abrigados dentro da natureza, e não separados dela”
Qual é o trabalho mais importante que fez até agora e porquê?
É espantoso ver como o trabalho da Ibuku ajudou a mudar a ideia de design ‘sustentável’, e sobretudo o design de bambu, desde o prático e obrigatório para o lúdico e elegante. Há uma década, o bambu começava a despertar a imaginação entre alguns grupos de inovadores, mas a maior parte do mundo considerava-o uma madeira pobre, talvez uma eventual solução ecológica. Hoje em dia, o bambu é um material orgulhoso e dinâmico por si só, digno de estudo e atenção criativa, que atrai designers e engenheiros que estão abertos a novas maneiras de pensar. Partilhamos o que estamos a aprender através de workshops online e presenciais denominados Bamboo U, que também fortalece a nossa comunidade internacional. O que o bambu nos ensinou no atelier é simples flexibilidade: que não estamos forçosamente no centro do universo. Que há riqueza e maravilha a ter em conta quando mudamos as nossas próprias perspetivas e vemos as coisas de uma forma nova.Os espaços e estruturas que criamos acalmam os corações e despertam a imaginação das pessoas que lá passam os seus dias. Eles fundamentam-nas no mundo natural, e dão-lhes esperança para o futuro. Os espaços em si são concebidos para inspirar pensamentos brilhantes. Aquilo de que são construídos e como nos relacionamos conscientemente ou subconscientemente com esse material influencia fortemente a nossa reação emocional. Há a sensação de que se nós, uma pequena equipa que projeta na selva ao longo de apenas alguns anos, formos capazes de criar castelos a partir da erva, então que mais é possível? Quero que as pessoas se apercebam e se lembrem que é possível um futuro maravilhoso, e que está nas nossas mãos criá-lo. Quando as pessoas entram no The Arc, ou Sharma Springs pela primeira vez, os seus olhos olham para o alto, inclinam-se para trás e os seus ombros relaxam, e iluminam-se com uma sensação de maravilha. Espaços que provocam sensações capturam o coração das pessoas, e motivam a ação. 

Na sua opinião, o bambu poderá mudar o mundo?
O bambu é o material mais elegante, eficiente, de crescimento mais rápido e abundante que existe. A floresta tropical está quase a desaparecer, o contraplacado, na sua maioria, é feito da floresta tropical e o cimento tem uma carga de carbono que o futuro não pode tolerar. Embora a construção com bambu não seja nova, engenheiros, arquitetos e designers como nós são capazes de investir tempo e cuidado na criação de uma nova linguagem de design com bambu, porque os métodos naturais de tratamento transformaram o bambu num material de construção credível e duradouro.

"Os métodos naturais de tratamento transformaram o bambu num material de construção credível e duradouro”

Quantas obras de bambu é que ‘projetou’?
 Embora agora trabalhemos com muitos materiais, as nossas primeiras, aproximadamente 200, estruturas, durante os nossos primeiros 12 anos, foram construídas principalmente a partir do bambu. A forma como concebemos na Ibuku cresceu a partir da escolha de usar bambu. Na ausência daquilo a que se poderia chamar um vocabulário testado e comprovado ou mesmo um antecedente da arquitetura bambu, tivemos de inventar as nossas próprias regras, os nossos próprios processos, os nossos próprios sistemas. Aprendemos a escutar o material e a compreender o que o material se quer tornar no mundo. Em vez de ambicionarmos materiais raros ou escassos, o bambu deixa-nos partilhar e celebrar a abundância. 

Já alguma vez pensou em fazer um curso de arquitetura?
Eu adoro estudar, e estou constantemente a aprender. Muitas vezes desejamos ter um currículo para nos orientar – mas em vez disso temos que ser os exploradores, os aventureiros. Adoraria complementar isso com o estudo de arquitetura, pergunto-me como fazer isso enquanto dirijo um gabinete! Tenho suspeitas de que por já trabalhar com arquitetos qualificados e talentosos, seria mais tentada a estudar formalmente o que tenho lido informalmente: antropologia do lar, a psicologia do espaço, e como o ADN está a revelar padrões de migração humana que influenciam a identidade de pertença.
Filomena Abreu
T. Filomena Abreu
F. Direitos Reservados

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