Greg Natale

Uma conversa descontraída. Um estilo ousado. Um designer de interiores que pensa além, na procura pelo inesperado. Apresentamos-lhe Greg Natale, o designer australiano que desafia as normas do código do luxo. Conhecido pela mestria em conjugar cores e padrões, Greg traça um percurso profissional repleto de experiências gratificantes, tendo criado, em 2001, o atelier Greg Natale Design. Adora aproveitar aquilo que da cultura é fruto, admitindo tender para um design com vertente maximalista, aliado a uma "forte sensibilidade modernista”. Garante que o seu estilo está em constante evolução, mas que, aconteça o que acontecer, a estética e a funcionalidade conviverão sempre de forma perfeita e sofisticada. Agora. Com a TRENDS. A ler nas próximas linhas. 

Cores e padrões sempre foram duas grandes paixões.
As cores e os padrões são elementos essenciais em todos os meus projetos. São estes detalhes expressivos, dinâmicos e luxuosos que realmente dão vida a um espaço e criam impacto emocional. Os padrões fizeram sempre parte do meu ADN – o meu segundo livro foi intitulado The Patterened Interior [O Interior Padronizado] como tributo ao meu amor duradouro pelos padrões! O meu último livro, The Layered Interior [O Interior em Camadas], também reflete esta paixão, celebrando a forma como uma composição ponderada de acabamentos, mobiliário, arte e acessórios, com contrastes marcantes e variações ricas em cores e padrões, pode resultar num interior com aconchego, personalidade, drama e elegância. Tal como a minha paixão pelo design de interiores, o meu amor pelos padrões despertou quando eu era muito jovem, a crescer nos anos 70, na casa de família em Sydney. O espaço tinha azulejos com padrões, elemento que era ousado, refletindo tanto a moda da época como a herança italiana. Quando comecei a trabalhar e, mais tarde, criei o meu estúdio, o visual que predominava era clean e minimalista. De certa forma, revoltei-me contra isso ao introduzir mais camadas nos meus interiores e ao dar expressão à minha paixão por cores e padrões. O meu primeiro projeto, concebido para a minha irmã, recuperou um padrão de arquivo da Florence Broadhurst, tendo sido colocado em todo o espaço para proporcionar um efeito maximalista. Foi um visual arrojado, de padrão sobre padrão, que despertou muita atenção e lançou o meu atelier no universo do design.

Na hora da criatividade, onde se inspira? 
Adoro aproveitar referências culturais, desde o cinema e televisão à arte, moda e música, destilando todas estas influências dentro dos meus interiores e designs de produto. Isto remonta ao tempo em que era muito jovem e estava inspirado pelos interiores que via no ecrã, em particular pelo escritório da Alexis Carrington, na série Dinastia! Também adoro aproveitar épocas e momentos particulares da moda e da música, inclusive o Studio 54, do final dos anos 70, e as superestrelas da nova onda do início dos anos 80. A arquitetura dessa época é uma outra influência para mim. Sempre me inspirei na residência do Halston, em Manhattan, do arquiteto modernista Paul Rudolph, assim como em muitos dos arquitetos italianos pós-modernistas dos anos 70 e 80, que também influenciaram o meu estilo. Adoro, inclusive, o Brutalismo, a Art Déco e o Racionalismo italiano. O design de Gio Ponti para o hotel Parco dei Principi, em Sorrento, apresenta padrões a que me refiro frequentemente, por exemplo.
O meu estilo inclina-se para o maximalista, com muitas camadas de padrões, cores e materiais mistos. Subjacente a estes elementos há sempre uma forte sensibilidade modernista. As viagens são também uma grande influência no meu trabalho, procurando ainda os espaços comerciais da moda como fonte de inspiração.

Tem como referência alguma figura do ramo?
Paul Rudolph, Oscar Niemeyer, Gio Ponti, Harry Seidler, Mario Botta, David Hicks, Martyn Lawrence Bullard, Jonathan Adler, Verner Panton e Kelly Wearstler.

Como é o Greg Natale como pessoa?
Sou tão fascinado pelo meu trabalho que acabei por absorver influências criativas que me moldam, hoje, como pessoa. Por isso, penso que se pode conhecer um pouco de mim a partir dos meus designs. Sempre adorei música, moda e arte, e adoro a emoção e a energia frenética das discotecas, onde todos estes mundos se cruzam. É por isso que frequentemente faço referência ao Studio 54. Adoro as linhas baixas e elegantes do final dos anos 70 e gosto de combinar metais, como o aço inoxidável e o latão. Nasci em 1974, por isso, a era disco constitui algumas das minhas memórias mais antigas.

Revele-nos algo que ninguém saiba sobre si.
Estudei História da Arte e Arquitetura antes de criar o meu atelier de design de interiores. E, embora não me tenha tornado arquiteto ou historiador de arte, continuo apaixonado por estas áreas, aliás, têm sido influências muito importantes para o meu trabalho.

Qual foi a maior injustiça que ouviu acerca do seu trabalho?
Por vezes, os padrões podem ser provocadores. Adoro ser ousado e combinar gestos expressivos e dramáticos dentro de um espaço, o que também pode gerar reações fortes e nem sempre corresponder ao gosto de todos e cada um. Contudo, penso que é também isso que torna cada projeto tão único e emocionante, à medida do cliente. Pode ter existido uma época em que a palavra "decoração” era utilizada desdenhosamente, mas hoje penso que as pessoas veem que, de um equilíbrio belo e sofisticado de elementos decorativos, nasce um ambiente habitável, luxuoso e interessante. Estimula o olhar, manifesta a personalidade e conta uma história.

"Adoro ser ousado e combinar gestos expressivos e dramáticos dentro de um espaço”

Ousadia é a assinatura que deixa em todos os projetos?
Adoro criar momentos ousados com contrastes marcantes, padrões expressivos, tonalidades ricas, texturas matizadas e elementos escultóricos dramáticos. Mas estes gestos teatrais são sempre ponderados e equilibrados, existindo uma lógica estrutural modernista que fundamenta todas estas camadas maximalistas.

Ao longo da carreira, teve sempre o mesmo estilo? 
O meu estilo está sempre a evoluir, uma vez que estou constantemente a quebrar limites com a minha estética, enquanto me mantenho em sintonia com as necessidades e desejos dos clientes. Mas há, sem dúvida, uma assinatura que pode ser traçada desde o meu trabalho mais antigo até agora, em particular, pelo uso de padrões e cores na criação de interiores personalizados e sofisticados. Como designer, é necessário ter um ponto de vista definido e, nos últimos tempos, utilizaria o termo "maximalista” para descrever o meu estilo de assinatura, uma vez que reflete a sensibilidade estratificada que é tão essencial no meu trabalho. 

No seu lar, nomeie a peça com que não consegue viver sem.
A arte é uma grande inspiração para o meu trabalho, bem como uma camada essencial dentro de todos os meus projetos de interiores. Em casa, tenho peças de Frank Stella, Andy Warhol e Keith Haring, sendo que todos eles me inspiraram de alguma forma. São também evocativos de um certo momento artístico dos anos 70 e 80 em Nova Iorque, o qual adoro referir.

De que forma tem contribuído para a evolução do universo do design?
Espero que o meu trabalho tenha introduzido alguma paixão, energia, personalidade e dinamismo ao design de interiores. Como mencionei, quando estou a criar, gosto de recorrer a influências exteriores à esfera do design, incorporando referências culturais. Não estou necessariamente a pensar em design dentro de uma bolha. Trata-se de estar aberto a uma biblioteca mais ampla de inspirações visuais, culturais e históricas. Neste sentido, espero ter ampliado as possibilidades do design de interiores e integrado uma cultura mais alargada, à medida que demonstro como podem ser criados espaços belos, através das camadas e da combinação de materiais interessantes, tais como pedra e metal com padrões pictóricos ou gráficos e contrastes tonais sumptuosos.  

Defina um bom designer de interiores e indique os maiores desafios que o mesmo enfrenta.
Penso que é muito importante ter um estilo de assinatura, para que se apresente como um designer com um ponto de vista definido. Tem de ser fiel a si mesmo e refletir o seu próprio estilo, enquanto satisfaz as exigências do cliente. Trata-se de olhar em volta e traçar um caminho diferente do comum. 

Como seria o projeto de sonho, com recursos e orçamento ilimitados?
Há tantos projetos de sonho! Adoraria criar um hotel de luxo. Em termos de produto, sempre quis conceber iluminação, que é algo que já me encontro a desenvolver.

"O meu estilo está sempre a evoluir, uma vez que estou constantemente a quebrar limites com a minha estética”

No futuro, o funcional prevalecerá sobre o estético?
A funcionalidade é fundamental para todos os meus projetos, até porque um espaço precisa de funcionar para ser habitável. Mas isto, claro, equilibrado com momentos de beleza e drama que criam interesse visual, emoção e vigor. Estes detalhes são, em última análise, o que torna um espaço acolhedor, apelativo e visualmente atrativo. A vida seria bastante entediante sem eles. Por isso, não, não creio que a funcionalidade prevaleça inteiramente sobre a estética, precisam é de conviver de forma perfeita e sofisticada. 

Revele-nos qual é a sua coleção predileta. 
É impossível escolher uma, porque gosto de todas, mas estou muito entusiasmado com a próxima coleção. Acabamos de apresentar as coleções de 2023, com a primeira exposição na Maison&Objet, em Paris. Muitas das novas cerâmicas foram inspiradas pela interseção de arte, moda e música, que emergiram das ‘underground club scenes’, das décadas de 70 e 80. Já a coleção Debbie, de recipientes cravejados, presta homenagem à lendária frontwoman Debbie Harry. Colocando iconografia punk sobre formas elegantes, estes vasos, tigelas e floreiras são cravejados com brilhantes, tachas em ouro ou prata e vidrados a preto, branco ou verde-salva, combinando energia rock and roll e o estilo rebelde downtown.

Quais os projetos traçados para um futuro próximo?
Estou ansioso por lançar a coleção Debbie, juntamente com as outras peças divulgadas na Maison&Objet. Há muito tempo que queria conceber uma coleção de iluminação, por isso, estou entusiasmado por me encontrar a trabalhar nesta ambição. Estamos também a investir em vários projetos internacionais de interiores, inclusive numa casa em Oklahoma e numa townhouse em Nova Iorque. O primeiro projeto na Tasmânia, Austrália, também está a emergir. 

Considera-se um ‘rebelde sem pausa’?
No sentido em que nunca deixo de ultrapassar limites através do meu trabalho, sempre com muita energia, diria que sim!