Com uma experiência de 40 anos, no design de interiores, Joana Aranha sentiu uma alegria imensa quando a filha Marta, licenciada em Arquitetura, se juntou ao seu atelier Joana Aranha Arquitetura e Design de Interiores, não só pela continuidade da marca, mas, acima de tudo, pelo contributo que poderia oferecer em projetos realizados de raiz. Numa sintonia imensa, desenvolvem propostas pelo mundo, encontrando inspiração nas muitas culturas com que se cruzam, criando ambientes notáveis em casas, escritórios e muitas outras estruturas. Apesar de se destacarem no segmento de luxo, são os pequenos detalhes e as peças manufaturadas por artesãos que revelam a autenticidade do seu trabalho. A utilização de materiais locais e a preocupação com a sustentabilidade está também presente nos seus projetos. Mas conceder felicidade e conforto a quem as procura é o maior ganho desta dupla, que não define limites para os seus projetos. A sua enorme capacidade de criar e reinventar é incomparável. Se for preciso correrem mundo por um pormenor, vão, sempre com a certeza de que o que fazem é o excelente para o seu cliente.
Quando foi formado o conceito do atelier?
Joana Aranha (JA) – A determinado momento da minha vida, decidi voar sozinha e tive a enorme sorte de ver a minha filha Marta vir trabalhar comigo. Foi o ponto mais alto da minha vida profissional. Tenho imenso orgulho em estarmos há mais de dez anos a fazer este percurso extraordinário. Acredito que já era previsível, porque a Marta sempre me acompanhou – com 3 anos ia comigo às feiras e mercados de muitos países onde eu ia em trabalho.
Marta Aranha (MA) – As minhas memórias mais antigas são de me ver sentada numa escada, enquanto a mãe falava ou tinha reuniões com os clientes, e também me lembro de como ficavam as casas depois das intervenções realizadas. Hoje, esses clientes continuam connosco e é muito interessante estar aqui e trabalhar com essas pessoas.
Qual foi o contributo que a Marta trouxe aos projetos?
JA – Para além da enorme alegria de poder trabalhar com a minha filha e ver que há uma continuação, trouxe a capacidade de criarmos muito mais em qualquer parte do mundo. Percebi que a Marta é uma excelente arquiteta, está presente em toda a execução dos projetos até estarem prontos, e a mim faltava-me este lado técnico para projetar edifícios. Trazia também todo o conteúdo, que foi aprendendo ao ver-me trabalhar, do design de interiores, e tudo isto foi maravilhoso.
MA – Uma casa não fica completa se não a fizermos até ao fim, até pode ficar muito bonita em termos arquitetónicos, mas depois é preciso dar o conforto. Nós levamos para os projetos este lado da vida e acabamos por nos completar e enriquecer a empresa. Percebemos que pensamos da mesma maneira perante inúmeras situações, temos uma cumplicidade muito saudável.
"TEMOS UMA CUMPLICIDADE MUITO SAUDÁVEL"
O que revela a essência do vosso trabalho?
JA – É muito mais do que decoração ou design de interiores. Nós não chegamos e pousamos as peças no sítio, nada disso. Nós criamos um conceito, mas, antes de qualquer trabalho avançar, pesquisamos muito, observamos as pessoas que nos contrataram para sentirmos o que pretendem. Depois, construímos uma narrativa. A essência do nosso trabalho é um storytelling, mas também é muito amor e muita paixão por cada projeto.
MA – Tenho aprendido com a mãe a observar e a ouvir as pessoas, para captar a sua essência e o propósito da utilização que pretendem dar ao edifício ou remodelação que vamos fazer. O dia a dia dos nossos clientes e a sua personalidade são muito importantes contarmos a história. Temos de beber a essência de cada um, envolvemo-nos até sentirmos cá dentro que estamos prontas para avançar. Antes, há muitas reuniões, arriscamos até encontrarmos a perfeição e, quando apresentamos um conceito, temos a certeza de que está correto.
JA – Há famílias que têm quadros que estimam muito, ou são apaixonadas por determinadas peças que têm em casa, a nossa sabedoria tem de encaixar esses objetos e fazer uma mistura com o conceito criado para que tudo resulte em leveza e equilíbrio. E, quando terminamos um projeto, colocamos velas, incenso e música ambiente para que as pessoas sintam o espaço na sua plenitude. O nosso momento alto é o telefonema que nos fazem de seguida, é um sentimento imenso de trabalho cumprido, porque não estamos lá, mas sentimos que estão felizes.
"Trabalhamos muito com a identidade das pessoas"
Têm projetos na Índia e em África. Nestes locais, utilizam materiais da região?
MA – No nosso trabalho, utilizamos sempre materiais locais e a valorização dos mesmos. Os projetos mais emblemáticos que temos agora são na Índia, onde estamos a construir um edifício de escritórios; uma penthouse em África; uma casa no Lubango, em Angola; e vamos começar um hotel na Guiné-Bissau. O edifício na Índia é feito com o chamado tijolo de burro, por lá muito utilizado, que é terra seca ao sol, e, como as temperaturas são muito altas, virámos uma fachada cega para sul para que tenha proteção e abrimos buracos calculados para filtrar a luz solar e criarmos uma sensação de Jali. Parece etéreo, como diz a mãe. Tenho a sorte de ter conhecido muito bem a Índia, que me fascina pelas cores, pelas pessoas e pelos cheiros e onde tudo é possível. Os artesãos são extraordinários e, mesmo que as peças tenham imperfeições, são bonitas.
JA – Com a Guiné-Bissau, tenho uma relação emocional, sempre gostei muito de utilizar cabaças, e o casamento da Marta teve umas que vieram de lá. Agora, fomos convidadas pela pessoa que as trouxe para irmos fazer um hotel. Para nós, foi uma sorte tremenda esta porta abrir-se, não só pela possibilidade do trabalho, mas sim porque sei que vamos encontrar pessoas muito valiosas, os artesãos locais fazem trabalhos belíssimos que, em conjunto com a nossa visão, darão um resultado surpreendente.
MA – O melhor trabalho que temos com a utilização de materiais locais é no Brasil, onde fizemos uma casa de raiz. Temos projetos em quase todos os continentes. Ainda que gostemos muito de trabalhar no nosso país, quando saímos ficamos maiores pela experiência que adquirimos ao absorver as várias culturas.