As suas raízes estão em Coimbra. Estudou em Londres, onde tirou o curso de Business Management, e vive em Cascais. Miguel Pires de Lima iniciou a sua carreira na área da banca mas, pouco tempo depois, foi parar a uma empresa de mobiliário. É ali que ganha o gosto pelo setor dos móveis e não tardou em criar o seu próprio negócio: a Homes In Heaven – uma empresa com ligação a Londres. Tinha 28 anos. Apesar de viver em Cascais, Miguel sempre identificou Paços de Ferreira, local onde a fábrica opera, como um cluster para o setor, porque tem tudo: "mão de obra, materiais, know-how”. É por aqui que se mantém desde 1997. O empresário iniciou este caminho com três membros e hoje já conta com cerca de 50 funcionários e várias lojas espalhadas por Portugal e além-fronteiras.
Cria a marca Homes In Heaven e lança-a em Londres. Quer explicar?
Como tinha aquela ligação a Londres, por ter lá estudado, e o mercado em Portugal era muito escasso e não tinha grande interesse, decidi criar uma marca própria e abrir em Londres, onde nasce efetivamente a marca, daí no logótipo estar Est. 1997.
Como foi dar um passo destes num mercado como Londres?
Estamos a falar de há muitos anos, em que não havia internet sequer. As peças tinham mesmo de existir e estar lá. Arrendei um espaço, abri uma empresa e exportava daqui para lá. Mantive a empresa, durante 20 anos, em Chelsea. A última crise, em 2008, levou ao encerramento da mesma. Entretanto, como tinha uma base de clientes lá, continuei a vender para Inglaterra. Depois, o negócio passou mais para Espanha, um mercado aqui mais perto e onde desenvolvemos muitos projetos chave-na-mão. O mercado português também passou a representar uma fatia bastante maior na empresa.
Neste momento, estão onde?
Em Portugal, estamos em Paços de Ferreira, em Lisboa e no Porto, na Avenida da Boavista. Fora de Portugal, estamos em Madrid, em Sevilha e em Marbelha. Temos o negócio dividido em quatro áreas: uma área de retalho, em Silves, onde temos uma coleção de mais de 500 modelos, que depois se multiplicam por 20/30 acabamentos diferentes, o que dá um total de cerca de 18.000 referências; uma área de revenda, com vendedores em diferentes países da Europa; a área de projeto chave na mão, que normalmente fazemos com embaixadas e pequenos hotéis; e ainda uma área que consiste em criar peças específicas para projetos de decoradores. O negócio é feito 90% por encomenda, não trabalhamos com stock.
Normalmente, estes negócios vêm sempre de família. Com o Miguel foi diferente. Criou o seu próprio negócio.
E já lá vão quase 25 anos de muito trabalho, mas valeu a pena.
"O negócio é feito 90% por encomenda, não trabalhamos com stock”
E o é que o moveu sempre nestes 25 anos?
O estar motivado e querer.
E a criatividade vem Miguel, das suas experiências e vivências?
Vem muito das minhas vivências, experiências, sim. Viajo muito, gosto da estética, de decoração. Apesar de não ser decorador, tenho intuição e, na realidade, as coleções que vamos lançando não são desenhadas por mim, porque não desenho, mas são orientadas por mim. E depois, também vai muito pelas tendências, o andar um bocadinho de olho aberto e ter gosto, e dar as indicações certas, seguindo essas tendências. Hoje em dia, uma das vantagens que temos, por estar a trabalhar na Europa, é poder lançar coisas, quase como a roupa, por estação. Mas, mesmo no setor da roupa, dantes eram duas coleções por ano – a coleção de inverno e a coleção de verão –, e hoje há marcas que lançam coisas praticamente todos os meses.
Sente essa necessidade de lançar coisas novas com frequência no mobiliário?
Acho que este mercado está cada vez mais globalizado, a internet vai mudar o mundo, as pessoas têm acesso a tudo. A história do Instagram e o ver constantemente coisas novas, por exemplo, obriga a que se esteja a um ritmo muito mais acelerado. Antigamente, faziam-se coleções, produziam-se duzentos disto, duzentos daquilo, punha-se à venda e a indústria trabalhava para um mercado completamente diferente do atual. Hoje em dia, até nos carros se trabalha por encomenda. O mesmo acontece connosco. Pode-se escolher desde os pés do sofá, à medida, ao tecido, e esta flexibilidade é a única vantagem que ainda temos.
No seu entender, as peças caem no desuso ou são intemporais?
Temos produtos que têm 25 anos e continuam a vender. E temos produtos que fizemos o ano passado e não tiveram grande saída. Portanto, na realidade, acho que é tudo intemporal. Acho que o que é intemporal para uns não é para outros. Eu próprio já tive a minha casa de uma forma e hoje em dia tenho doutra. Mas também tenho uma outra casa, que está com as mesmas coisas há 18 anos, e ainda gosto.
O Miguel não é formado na área do mobiliário, contudo sabe como se faz um móvel.
Sei como é que se faz um móvel do princípio ao fim. Aliás, dou opiniões em relação à produção todos os dias. O processo é simples: há uma ideia, há uma inspiração, faz-se um briefing, depois há inputs de várias pessoas, temos quem desenha e faz-se o protótipo. Depois do protótipo aprovado, produz-se.
E o que é que pensa do setor do mobiliário em Portugal?
É imensa a concorrência. Não consigo compreender para onde é que vai tanta coisa. Quando iniciei, havia poucas empresas com alguma estrutura. Vinham a Paços de Ferreira e tinham exposições todas iguais, só havia um tipo de design. Atualmente, há empresas grandes e mais competitivas. Com as feiras internacionais, tudo mudou imenso. E, depois, veio o IKEA, em 2004, puxar pela procura. Acho que a partir do IKEA as pessoas começaram a olhar mais para a casa do que antes. Por exemplo, em Inglaterra, eles já estavam bastante mais à frente, enquanto que em Portugal havia uma elite que tinha casas bem decoradas e o resto era tudo ‘chapa cinco’.
O nosso mercado é competitivo, em termos de design, em comparação com países como a Itália?
Fazemos coisas tão boas quanto os italianos. Acontece é que continuamos ainda com um gap ao nível do marketing.
"FAZEMOS COISAS TÃO BOAS QUANTO OS ITALIANOS. ACONTECE É QUE CONTINUAMOS AINDA COM UM GAP AO NÍVEL DO MARKETING”
Falta o marketing para sermos dos melhores?
Temos vindo a evoluir, mas ainda estamos muito longe, muito atrás. Italiano é italiano, tem design; e alemão é alemão, na qualidade.
Em 25 anos de Homes In Heaven, também houve muito investimento em maquinaria?Acabamos de fazer agora um investimento. Aumentamos a parte de produção, compramos máquinas novas. Antigamente só existiam máquinas para produções gigantes, hoje há máquinas para produções peça a peça, e o próprio know-how também está a passar do carpinteiro para a máquina. É o caminho, porque a mão de obra qualificada é cada vez mais escasso.
Há algum país onde gostaria de ver a sua marca?
Há países onde gostaria de incrementar um negócio, porque praticamente já exportamos para quase todo o lado. Estamos na Rússia, Malta, França, Espanha, Itália, na Europa toda. Só não exportamos para o sul da América, é o único sítio de que me lembro…
E onde gostaria de abrir uma loja?
Em Paris. Porque adoro Paris, tem casas muito bonitas, e nós vendemos muito para Paris. Os franceses são difíceis, são demasiado esquisitos. Em Paris, nunca consegui abrir uma loja, mas era um dos locais que gostava.
E qual é o tipo de cliente da Homes In Heaven?
O meu cliente é um cliente que não é rico, mas é um cliente com bom gosto.
Cria a marca Homes In Heaven e lança-a em Londres. Quer explicar?
Como tinha aquela ligação a Londres, por ter lá estudado, e o mercado em Portugal era muito escasso e não tinha grande interesse, decidi criar uma marca própria e abrir em Londres, onde nasce efetivamente a marca, daí no logótipo estar Est. 1997.
Como foi dar um passo destes num mercado como Londres?
Estamos a falar de há muitos anos, em que não havia internet sequer. As peças tinham mesmo de existir e estar lá. Arrendei um espaço, abri uma empresa e exportava daqui para lá. Mantive a empresa, durante 20 anos, em Chelsea. A última crise, em 2008, levou ao encerramento da mesma. Entretanto, como tinha uma base de clientes lá, continuei a vender para Inglaterra. Depois, o negócio passou mais para Espanha, um mercado aqui mais perto e onde desenvolvemos muitos projetos chave-na-mão. O mercado português também passou a representar uma fatia bastante maior na empresa.
Neste momento, estão onde?
Em Portugal, estamos em Paços de Ferreira, em Lisboa e no Porto, na Avenida da Boavista. Fora de Portugal, estamos em Madrid, em Sevilha e em Marbelha. Temos o negócio dividido em quatro áreas: uma área de retalho, em Silves, onde temos uma coleção de mais de 500 modelos, que depois se multiplicam por 20/30 acabamentos diferentes, o que dá um total de cerca de 18.000 referências; uma área de revenda, com vendedores em diferentes países da Europa; a área de projeto chave na mão, que normalmente fazemos com embaixadas e pequenos hotéis; e ainda uma área que consiste em criar peças específicas para projetos de decoradores. O negócio é feito 90% por encomenda, não trabalhamos com stock.
Normalmente, estes negócios vêm sempre de família. Com o Miguel foi diferente. Criou o seu próprio negócio.
E já lá vão quase 25 anos de muito trabalho, mas valeu a pena.
"O negócio é feito 90% por encomenda, não trabalhamos com stock”
E o é que o moveu sempre nestes 25 anos?
O estar motivado e querer.
E a criatividade vem Miguel, das suas experiências e vivências?
Vem muito das minhas vivências, experiências, sim. Viajo muito, gosto da estética, de decoração. Apesar de não ser decorador, tenho intuição e, na realidade, as coleções que vamos lançando não são desenhadas por mim, porque não desenho, mas são orientadas por mim. E depois, também vai muito pelas tendências, o andar um bocadinho de olho aberto e ter gosto, e dar as indicações certas, seguindo essas tendências. Hoje em dia, uma das vantagens que temos, por estar a trabalhar na Europa, é poder lançar coisas, quase como a roupa, por estação. Mas, mesmo no setor da roupa, dantes eram duas coleções por ano – a coleção de inverno e a coleção de verão –, e hoje há marcas que lançam coisas praticamente todos os meses.
Sente essa necessidade de lançar coisas novas com frequência no mobiliário?
Acho que este mercado está cada vez mais globalizado, a internet vai mudar o mundo, as pessoas têm acesso a tudo. A história do Instagram e o ver constantemente coisas novas, por exemplo, obriga a que se esteja a um ritmo muito mais acelerado. Antigamente, faziam-se coleções, produziam-se duzentos disto, duzentos daquilo, punha-se à venda e a indústria trabalhava para um mercado completamente diferente do atual. Hoje em dia, até nos carros se trabalha por encomenda. O mesmo acontece connosco. Pode-se escolher desde os pés do sofá, à medida, ao tecido, e esta flexibilidade é a única vantagem que ainda temos.
No seu entender, as peças caem no desuso ou são intemporais?
Temos produtos que têm 25 anos e continuam a vender. E temos produtos que fizemos o ano passado e não tiveram grande saída. Portanto, na realidade, acho que é tudo intemporal. Acho que o que é intemporal para uns não é para outros. Eu próprio já tive a minha casa de uma forma e hoje em dia tenho doutra. Mas também tenho uma outra casa, que está com as mesmas coisas há 18 anos, e ainda gosto.
O Miguel não é formado na área do mobiliário, contudo sabe como se faz um móvel.
Sei como é que se faz um móvel do princípio ao fim. Aliás, dou opiniões em relação à produção todos os dias. O processo é simples: há uma ideia, há uma inspiração, faz-se um briefing, depois há inputs de várias pessoas, temos quem desenha e faz-se o protótipo. Depois do protótipo aprovado, produz-se.
E o que é que pensa do setor do mobiliário em Portugal?
É imensa a concorrência. Não consigo compreender para onde é que vai tanta coisa. Quando iniciei, havia poucas empresas com alguma estrutura. Vinham a Paços de Ferreira e tinham exposições todas iguais, só havia um tipo de design. Atualmente, há empresas grandes e mais competitivas. Com as feiras internacionais, tudo mudou imenso. E, depois, veio o IKEA, em 2004, puxar pela procura. Acho que a partir do IKEA as pessoas começaram a olhar mais para a casa do que antes. Por exemplo, em Inglaterra, eles já estavam bastante mais à frente, enquanto que em Portugal havia uma elite que tinha casas bem decoradas e o resto era tudo ‘chapa cinco’.
O nosso mercado é competitivo, em termos de design, em comparação com países como a Itália?
Fazemos coisas tão boas quanto os italianos. Acontece é que continuamos ainda com um gap ao nível do marketing.
"FAZEMOS COISAS TÃO BOAS QUANTO OS ITALIANOS. ACONTECE É QUE CONTINUAMOS AINDA COM UM GAP AO NÍVEL DO MARKETING”
Falta o marketing para sermos dos melhores?
Temos vindo a evoluir, mas ainda estamos muito longe, muito atrás. Italiano é italiano, tem design; e alemão é alemão, na qualidade.
Em 25 anos de Homes In Heaven, também houve muito investimento em maquinaria?Acabamos de fazer agora um investimento. Aumentamos a parte de produção, compramos máquinas novas. Antigamente só existiam máquinas para produções gigantes, hoje há máquinas para produções peça a peça, e o próprio know-how também está a passar do carpinteiro para a máquina. É o caminho, porque a mão de obra qualificada é cada vez mais escasso.
Há algum país onde gostaria de ver a sua marca?
Há países onde gostaria de incrementar um negócio, porque praticamente já exportamos para quase todo o lado. Estamos na Rússia, Malta, França, Espanha, Itália, na Europa toda. Só não exportamos para o sul da América, é o único sítio de que me lembro…
E onde gostaria de abrir uma loja?
Em Paris. Porque adoro Paris, tem casas muito bonitas, e nós vendemos muito para Paris. Os franceses são difíceis, são demasiado esquisitos. Em Paris, nunca consegui abrir uma loja, mas era um dos locais que gostava.
E qual é o tipo de cliente da Homes In Heaven?
O meu cliente é um cliente que não é rico, mas é um cliente com bom gosto.