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Rodrigo Seabra

"Estou a fazer um bom trabalho, tenho muito orgulho no que conquistei até agora”

Rodrigo Seabra, 12 anos, natural da Maia. Um nome a reter. O jovem piloto vai, este ano, estrear-se ao volante de um monolugar, inserido num projeto de desenvolvimento da Federação Automóvel da Suécia. A Formula Aquila 1000, na qual irá competir, só admite maiores de 14 anos, mas Rodrigo é exceção. Porquê? Metódico e empenhado, tem bem focados os seus objetivos. Senhoras e senhores, estejai atentos. É bem provável que tenhamos à nossa frente o primeiro português a chegar à Fórmula 1, daqui a uns anos. O bonito sorriso é um bónus.
Como começou a tua paixão por este desporto?
Começou cedo o gosto pela velocidade. Experimentei primeiro o motocrosse, com 4 anos, e esse ainda é um dos meus desportos favoritos. Com 5 anos, o meu pai levou-me ao Kartódromo Cabo do Mundo para experimentar o karting e, com 7 anos, já estava a fazer a minha primeira corrida no Kartódromo Internacional de Portimão. Sempre gostei da velocidade e da competição. 

Quando percebeste (sendo ainda tão novo) que gostavas de te tornar profissional nesta área?
Percebi quando conheci um piloto de quem gosto muito e que agora é meu amigo, o João Barbosa. Já ganhou quatro vezes as 24 horas de Daytona. É piloto profissional, contou-me a sua história e encorajou-me a seguir esta profissão. Lembro-me de que fui ao museu da pista de Daytona e vi todas as conquistas e as histórias dos pilotos por detrás dos automóveis que lá estavam. Acho que foi aí que percebi que queria ser profissional.

 "Felizmente, os meus pais acreditam em mim e estão a dar-me a oportunidade de poder ir mais longe”
Podes descrever-nos o teu percurso até agora? Quais as tuas principais vitórias?
Desde que comecei na competição, tentei sempre fazer o meu melhor. Não basta competir, temos de mostrar resultados de top 10 ou top 5. Em 2020, com 9 anos, fui campeão nacional no campeonato Rotax Max Challenge, por Portugal e por Espanha, e ainda fiz algumas corridas do campeonato Benelux e do campeonato italiano. No ano seguinte, com 10 anos, vivi uma época totalmente internacional. Na altura da pandemia, estive a viver em Inglaterra, cerca de dois meses, com o Oliver Rowland, piloto de Formula E e team manager da equipa em que competia, a Oliver Rowland Motorsport. No campeonato britânico, fiz muitos treinos e corridas muito duras, com muito frio e chuva. Nesse ano, ainda fiz o campeonato europeu Iame Euro Series, composto por cinco provas, em Espanha, Bélgica, Itália e França, onde fiquei em 6.º lugar na geral, entre 74 adversários. Terminei esse ano com uma prova nos Estados Unidos da América, a "corrida do ano” – a SuperNationals –, em Las Vegas. Foi muito duro. Estava muito calor e eu estava com um jetleg de nove horas. Apesar de ter terminado a corrida final em 8.º lugar, ganhei um heat de corrida e fiquei em 2.º e 3.º nos heats seguintes, entre mais de 60 pilotos. Esta foi uma época de muito trabalho, em que aprendi muito e ganhei muita experiência. No ano passado, dei um grande passo, ainda com 11 anos. Quis começar a competir com pilotos mais velhos, por isso, mudei para um chassis de adulto, com uma motorização mais potente. Iniciei a época na Categoria Júnior, no campeonato Super Karting USA Winter Series, com quatro provas em Miami, onde consegui ficar no top 10, entre mais de 50 adversários. Ainda em 2021, fiz dois campeonatos em OK Júnior, na Alemanha: o DKM Deutsch Kart Masters, onde obtive o título de Campeão Rookie e fiquei em 5.º lugar à geral; e o campeonato ADAC Kart Masters, onde também fui o melhor estreante e fiquei em 4.º lugar à geral. Também fiz a minha primeira pole position.  

És o primeiro português a participar num campeonato de fórmulas (monolugares), com apenas 12 anos, quando a idade mínima é 14. Como foi que isto aconteceu? Como te sentes em relação a este ‘record’?
Sempre gostei de avançar de nível, estar com os mais velhos e experientes. Neste momento, com a minha idade, ainda podia estar a competir na categoria de kart mini. Mas, no ano passado, já quis passar para o chassis Júnior e, agora, que fiz 12 anos, surgiu este convite que faz com eu seja o mais novo de sempre a participar num campeonato de monolugares. É um ‘record’? Nem pensei nisso, mas disse logo que era uma excelente ideia. O meu pai, quando foi contactado pela equipa de Formula Aquila 1000 e pela Federação Automóvel da Suécia, disse-me que tinha de fazer testes práticos e teóricos, telemetria, mecânica e maturidade em pista. Passei a tudo. Fiquei muito feliz e, agora, vou tentar agarrar esta oportunidade, ser um ‘record’ e aprender bastante para poder seguir para outras competições de fórmula.

Qual é o teu grande sonho?
Acho que todos devemos fazer o que mais gostamos na vida e, felizmente, os meus pais acreditam em mim e estão a dar-me a oportunidade de poder ir mais longe. Ser piloto de Fórmula 1 é o meu grande sonho e gosto de pensar que pode ser possível, mesmo sendo português. Mas há muitos outros campeonatos em que posso competir, ganhar e conseguir ser um piloto profissional. Tudo a seu tempo, mas vou trabalhar para isso!

"A par das competições, o foco é a escola. Acho muito importante aprender línguas, sou bilingue em inglês e estou a aprender francês e italiano”
Quais as grandes dificuldades deste desporto para alguém tão novo como tu? É difícil conciliar com a escola? É difícil ter fama tão cedo? Os teus amigos sabem o que tens alcançado? Como reagem?
Não é mesmo nada fácil. Só quem está dentro do desporto motorizado é que realmente sabe o quão difícil é. Ninguém da minha família está no meio e teve de ser sempre o meu pai a tentar descobrir qual o melhor caminho e forma para chegar até aqui. Também é um desporto muito caro, tivemos de arranjar apoios desde cedo. E a minha idade também é outra dificuldade, pois não é fácil acreditarem que pode ser possível ir mais longe. Mas estou a fazer um bom trabalho, tenho muito orgulho no que conquistei até agora. 
A par das competições, o foco é a escola. Acho muito importante aprender línguas, sou bilingue em inglês e estou a aprender francês e italiano. Como falto bastante à escola, tenho de organizar-me mais do que os meus colegas. Também não tenho muito tempo livre, pois gosto de fazer muitos outros desportos, como o surf, motocrosse e wakeboard, por isso tento aproveitar tudo ao máximo. Quanto aos meus amigos, eu não costumo falar muito sobre as minhas provas, na realidade, não gosto de falar. Eles também não percebem o quão difícil isto é para mim. Por isso, quando estou na escola, tento não falar da competição; se os meus amigos não me perguntarem nada, eu sou discreto e nem falo do assunto.

Este ano, vais disputar o campeonato de Formula Aquila 1000, na Suécia. Até tiveste de tirar uma licença especial. Tens-te esforçado muito. Consideras que tem valido a pena? Porquê?
Sim, vale sempre muito a pena. Faço um caminho consistente e toda a minha família me apoia muito. É um projeto de todos, tira-nos muito tempo e energia, mas estamos todos envolvidos; até o meu irmão mais novo, que tem 10 anos, me dá muita força e puxa sempre muito por mim. Diz que é o meu maior fã! Esta época vai ser de muita aprendizagem e estou muito contente com este desafio e por ter passado nos testes. Espero superar o meu objetivo, apesar de a condução ser totalmente diferente de um karting, só por ser um carro. A aerodinâmica, a forma de conduzir, a caixa de velocidades e mudanças, o peso e a massa do carro ao curvar e a travar... é tudo diferente. Mas estou super entusiasmado! O que não muda nada é a abordagem às corridas, pois estou focado em dar o meu melhor! 
Filomena Abreu
T. Filomena Abreu
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