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João Ceregeiro

"Valorizar o espaço envolvente é valorizar a paisagem”

Os jardins históricos e o património paisagístico são o que lhe alimenta a alma de arquiteto, enquanto divide o seu tempo na administração da Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas (APAP). Há quem diga que o tempo é sabedoria, e João Ceregeiro entrosou-se na área há tempo suficiente para possuir, hoje, uma visão madura e consistente do espaço que cada projeto deve ocupar. Talvez queira ficar desse lado, porque o Presidente da APAP está pronto para revelar alguns segredos do outdoor, que lhe poderão ser úteis para este verão. 
Como atua um arquiteto paisagista?
A arquitetura paisagista procura, a cada momento, um diálogo aberto entre a natureza e a obra do Homem, estabelecendo caminhos e etapas para o seu equilíbrio. Nós, paisagistas, conseguimo-lo através da nossa integração no espaço, independentemente da dimensão ou escala. Esta relação ou comunhão é conseguida pela observação e análise do meio: com a recolha de informação de múltiplas origens, e, através de uma perceção do tempo cronológico – Kronos –, a transformação do espaço chega ao momento síntese – Kairós –, onde é possível operar uma proposta. 

E como descreve o seu processo criativo? 
O processo envolve fases ou etapas como a recolha de informação, a análise, o debate, a proposta ou projeto, a construção e, por fim, um capítulo normalmente subvalorizado, mas muito importante, o da manutenção. Face às múltiplas interações a cada momento, cada fase poderá ser revista e realimentada de novo, ao longo do processo. 

Valorizar o espaço envolvente e, quando possível, trazê-lo para o interior da habitação é uma das principais preocupações?
Valorizar o espaço envolvente é valorizar a paisagem. Vivemos num período em que se tornou imperativo recuperar a paisagem e, com ela, os recursos do solo, da água, da biodiversidade e de uma nova mobilidade, trazendo-a até aos espaços não construídos da cidade, entrando pelos quintais e jardins interiores das casas numa escala mais íntima.

O clima influencia o local do projeto? Se sim, em que moldes?
Trabalhamos com matéria viva, em espaço aberto. O clima, entre os fatores naturais, é o que está mais presente nas opções do projeto. A luz, a temperatura, a humidade, o vento, a forma como o espaço de trabalho está exposto aos vários agentes, a correlação com o relevo e os elementos físicos envolventes têm uma enorme influência na conceção do programa e na sua formalização.

"Vivemos num período em que se tornou imperativo recuperar a paisagem”
Que elementos costuma utilizar com mais frequência e como realiza a manutenção dos mesmos nas diversas estações?
Na maioria dos casos, a vegetação é central na composição do espaço. A seleção do elenco vegetal passa por uma avaliação das espécies autóctones e daquelas que, pelo tempo e uso, assumiram a sua presença no contexto cultural. Um bom projeto envolve o conhecimento das necessidades específicas vegetais, da sua ecologia e da relação de competitividade entre espécies, subentendendo o equilíbrio no tempo. 

Nomeie quatro dicas sustentáveis para o espaço outdoor da casa.
A racionalidade na escolha das espécies em função das suas necessidades; os agrupamentos em função das afinidades ecológicas; compatibilizar os usos com a capacidade de suporte da proposta e um sistema de rega eficiente.  

Podemos afirmar que tudo é paisagem?
Sem dúvida. Tudo é paisagem. Ela espelha a obra do Homem e em si está inscrita a nossa História. É a partir dela que se diagnostica o presente e se pode antecipar o futuro. 

Candeeiros de suspensão ou de parede? Suspensão, luz de cima.
Vasos ou floreiras? Vasos de argila.
Instalação de uma cozinha exterior: sim ou não? Sim, uma grelha entre pedras.
Espreguiçadeira ou rede para relaxar? Rede, mais animado.
Construir um deck: sim ou não? Sim, mas permeável.
Móveis metálicos ou de madeira? Madeira, claro.
Objeto que não dispensa no outdoor? Banco / cadeira. 
Joana Rebelo
T. Joana Rebelo
F. Direitos Reservados

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